6 de jul. de 2017

.Improváveis Homens de Fé.

Os Sagrados Guias Científicos do neo-ateísmo são crentes convictos  em coisas cientificamente inexistentes.

O festejado escritor norte-americano Carl Edward Sagan, (1934-1996), astrônomo, cosmólogo e divulgador científico, conhecido do público pela série televisiva “Cosmos”, foi autor de centenas de publicações  que, se não tem o status de "científicas", poderiam ser entendidas como para-científicas, ou "pop science". Por sua insistente pregação anti-espiritual, Sagan é um tipo de "guru" dos neo-ateus. Debruçado principalmente sobre a astronomia, mas com pitacos sobre biologia e até psicologia, ele nunca foi um examinador isento, apesar de simular imparcialidade quanto a suas direções conclusivas. O manto da cientificidade cética e racional foi seu abrigo, pelo menos aparente. Para ele, qualquer menção - mesmo que vaga - a um Deus,  era a manifestação de um primitivismo intelectual a ser combatido por luminares da razão como ele próprio.se entendia.Dentro de sua missão de combater as trevas, Sagan, como bom soldado ateísta, atribuía quase todas as mazelas da humanidade à espiritualidade decorrente da crença em "fantasias" e nos demônios por ela trazidos.

Convencido de que deveria existir uma explicação "científica" para tudo, Sagan foi um dos maiores entusiastas e idealizadores do projeto SETI (Search for Extra-Terrestrial Intelligence, que significa Busca por Inteligência Extraterrestre). Neste projeto, o objetivo é analisar o máximo de sinais de rádio captados por radiotelescópios terrestres (principalmente pelo radiotelescópio de Arecibo), a partir da ideia de que se existe alguma forma de vida inteligente no universo, ela tentará se comunicar com outras formas de vida por meio de ondas eletromagnéticas (sinais de rádio), pois estas representam a forma de transmissão de informação mais rápida conhecida. (Wikipedia).

Entendia Sagan que se a resposta vinda do espaço representasse um conjunto de números primos, isto seria um sinal inequívoco de que uma inteligência superior havia entendido a mensagem e respondido. Faltaria então manter contato com eles e, fazer a grande pergunta: "quem somos?"

Cria Segan que eles, os ETs, em cuja existência era um crente apaixonado, representavam a resposta científica para tudo, pois eles seriam avançadíssimos para nossos padrões e teriam a luz da sabedoria (e, quem sabe, da eternidade). Paradoxalmente, o mesmo Sr. Sagan não reconhecia uma inteligência superior nas bilhões de complexas combinações químicas necessárias para que a uma simples célula viva exista. Ou seja: uma sequência de cinco números faria o escritor/cientista/ateu militante crer numa inteligência superior; mas os organismos vivos, com toda sua complexidade indicavam para ele somente um acaso, uma feliz e improvável coincidência...

O que há de "científico" nesta óbvia incoerência?
Por que a existência de ETs escutadores de rádio é aceitável e desejável, enquanto a existência de um Criador amoroso é abominável?

A questão é que isso só é coerente para aqueles tipos de personalidades que o Sr. Sagan representa e atrai, ou seja: quem não quer acreditar na existência de um mundo espiritual, por isso busca qualquer outra explicação para a vida na terra. Qualquer outra mesmo, de acaso puro e simples a ETs (mas, e de onde vieram os ETs?).

Atualmente, um dos devotados discípulos de Sagan, o Sr. Neil deGrasse Tyson, na verdade seu herdeiro midiático, apresenta um novo programa “Cosmos” e continua, porém de modo mais caricatural, a tripudiar toda e qualquer  alusão à espiritualidade e transcendentalidade, no que é seguido e imitado por "youtubers" zombeteiros e outros tantos "formadores de opinião" desses conturbados tempos pós-modernos .

Não sei se as performances quase teatrais  e as falas esquisitas do Sr. Tyson tem a ver com um personagem criado para ganhar "likes" em redes sociais, mas algumas declarações bizarras dele são muito significativas da confusão que essas crenças  (que negam a espiritualidade) podem causar.
Tyson disse, recentemente, que a vida na Terra pode ser somente um tipo de reality show intergalático ao estilo "Big Brother", em que nosso planeta seria um grande zoológico, em que ETs nos estudariam ou se divertiriam nos observando, apenas intervindo quando houvesse perigo de destruição desse planetinha azul...

Já o também famoso cientista Stephen Hawking, outro luminar do ceticismo ateu, após anunciar um investimento milionário em "pesquisas pela busca de vida extra-terrestre", declarou estar preocupadíssimo com... Invasões alienígenas. Para Hawking, os ETs não só existem como são malvados conquistadores do espaço (acho que já assisti um filme assim), e o contato com seres mais avançados de outros planetas nos destruiria em questão de tempo, assim como foram dizimados os povos americanos com a chegada dos europeus. A solução, segundo ele, é a busca por uma "nova Terra" no espaço sideral... E rápido! (Acho que já assisti um outro filme assim).

Lembremos que nunca, apesar de todos os esforços e milhões de dólares investidos, foi encontrada uma evidência vaga e muito menos uma prova científica de existência da mais rústica forma de vida extra terrestre, e que "viagens espaciais" ainda estão restritas à nossa própria órbita terrestre.  Existe um abismo entre as expectativas desses sonhadores e a realidade e só obras de ficção podem transpor os obstáculos cientificamente imensos  que nos separam de, por exemplo, uma ida ao vizinho planeta Marte. Há muita expectativa e muito mais delírios, mas nada, absolutamente nada de cientificamente concreto que possa alimentar essas esperanças quase que metafísicas. Sobra então a fantasia.
Eles olham para o céu estrelado, tal qual o mais primitivo homem já fez, e sentem o maravilhamento da criação e a sensação de pequenez diante de um universo misterioso. Como se auto-proíbem de crer num Criador que ama a humanidade e que prometeu uma Nova Vida plena, eles põe suas esperanças em uma...Crença. A fé nos celestiais ETS, tal qual uma religião.
Mas, eles não são daqueles cientistas que só creem no que pode ser comprovado? Nem tanto.
Não foram eles que "concluíram" que o "sentido" de nossas vidas é tão somente aprimorar e transmitir DNA? Nem tanto.

O que vejo, sem  surpresa, é que até os luminares da tal "razão" sucumbem e caem naquilo que dizem repudiar: a crença especulativa, só que revestida por um - cada vez mais irreconhecível - envoltório de ciência "séria". Isso mostra que nem os ilustrados que se esforçam para afastar a transcendentalidade de suas vidas o conseguem de modo sustentável. A inquietude humana por respostas e por sentido numa vida efêmera não pode ser abafada, pode ser transferida para um simulacro de espiritualidade. Restam então os ETs, essas neo-divindades cultuadas por Segan, Hawking, Tyson e milhões de fiéis pelo mundo afora. Serão eles que trarão as respostas para tudo e responderão ao desassossego de suas almas inquietas.

Negam a espiritualidade, mas acolhem qualquer outra ideia que  tente substituí-la.

Eles creem sim em deuses, demônios e redenções.

Quem nega o Eterno, crê em qualquer coisa, até em si mesmo.

"Nenhum homem diz 'Deus não existe', a não ser aquele que tem interesse em que Ele não exista". (Agostinho).

>>>>>>>>>>>> Textos Relacionados: 
A Lógica ateísta
Neo-ateísmo e ciência: a deusa razão de Craig Venter

.O Übermensch de Nietzsche e o Cristão.

(João Cruzoé)

Nietzsche não nasceu doido. Nasceu de uma família luterana, ficou órfão de pai, cursou teologia, filosofia, misturou moral com ideal, envenenou-se com o próprio conhecimento, voltou-se contra os aguilhões da moral cristã e, aí sim, morreu maluco.
Escreveu muitas coisas, principalmente contra o cristianismo. O que o torna amado e endeusado com o filósofo desta geração. Aliás, sua fórmula ainda é usada com muito sucesso para vender livros, como por exemplo: por Dan Brown e o falecido Saramago.

Friedrich Wilhelm Nietzsche (1844 - 1900) é muito comentado e admirado pela sua filosofia sobre o homem ideal, o Ubermench, o ultimate man, o "além do homem", o "super-homem filosófico", que não se embaraça com princípios morais, a fim de atingir o máximo de si. Para o filósofo, os princípios morais do cristianismo são amarras que enfraquecem o homem, que freiam seus instintos, tornando-o servil, humilde, manso, impedindo-o de potencializar-se.

É certo que o verso: "Deutscheland übber alles", do hino da Alemanha (nazista) "Las Lied der Deutschen" transpirava a "superioridade" da raça alemã, de inspiração evidentemente idealista do autor do "além do homem" - Nietszche.

Hitler seguiu a "cartilha" de Nietzsche, e levou o exército de "super-homens" alemães a praticar o "Shoah". Então eu me pergunto: onde estava a força deste "super-homem"? Ele se revelou uma loucura. O conhecimento do bem e do mal é um atributo humano, mas uma filosofia que estimula a libertação dos freios morais para atingir o potencial de um homem - é um desastre. A história não mente.

O apóstolo Paulo, o anti-Nietzsche, disse: Quando penso: Estou fraco, sou forte! A fraqueza de Deus é mais forte que qualquer poder humano. E não é só os cristãos que pensam assim. Gandhi, tirou os ingleses de cima das costas da Índia, em um tempo que a Union Jack era muito mais poderosa. Ele usou os princípios da não-violência, depois aprendidos pelo Pastor Martin Luther King.

A essência do significado de fraqueza no cristianismo não se pode medir com paradigmas humanos. Quando Jesus Cristo disse: ...E aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração, não estava querendo dizer que tinha um espírito fraco, tímido ou covarde, mas que o poder se aperfeiçoa na fraqueza. Quando um homem ou uma mulher se rende à graça salvadora do Criador, ele/ela não se apequena, mas se coloca em posição de ser fortalecido/a por Deus. Tudo posso naquele que me fortalece. Filipenses 4.13.

Se o cristianismo autêntico fosse mesmo coisa de servos e derrotados, não teria sobrevivido diante dos ditadores romanos. De onde vem a força do cristão? Vem do seu relacionamento e comunhão com Deus. A oração de um cristão santo é muito mais poderosa que uma nação inteira.
O "além do homem" que Nietzsche sonhou, livre das ligaduras morais, não se concretizou nem nele próprio. Um super-homem sem princípios é um louco em potencial, pronto para perpetrar qualquer atrocidade.

Não passa de uma utopia filosófica. Na prática o resultado é desastroso. Ainda prefiro ser cristão, pois minha força não está em mim, ela vem do Espírito de Deus.

(João Cruzué)

Fonte :http://olharcristao.blogspot.com/2010/08/o-ubermench-e-o-cristao.html

.Cristo + Filosofia.

 (John MacArthur)

A palavra "filosofia" é a transliteração da palavra grega philosophia, a qual é formada de duas palavras gregas comuns: phileo (amar) e sophia, (sabedoria). Ela literalmente significa "o amor à sabedoria humana". Em seu sentido mais amplo, é a tentativa da parte do homem para explicar a natureza do universo, incluindo os fenômenos de existência, pensamento, ética, comportamento, estética e assim por diante.

No tempo de Paulo, "tudo que tinha a ver com teorias sobre Deus, sobre o mundo e sobre o significado da vida humana se chamava 'filosofia'... não somente nas escolas pagas, mas também nas escolas judaicas das cidades gregas". Josefo, o historiador judeu do primeiro século, acrescenta que havia três correntes filosóficas entre os judeus: a dos fariseus, a dos saduceus e a dos essênios.

Paulo condenou com veemência qualquer teoria filosófica, a respeito de Deus, que professasse mostrar a causa da existência do mundo e oferecer orientação moral à parte da revelação divina. Em Colossenses 2.8-10, ele diz:

Cuidado que ninguém vos venha a enredar com sua filosofia e vãs sutilezas, conforme a tradição dos homens, conforme os rudimentos do mundo, e não segundo Cristo: porquanto nele habita corporalmente toda a plenitude da Divindade. Também nele estais aperfeiçoados. Ele é o cabeça de todo principado e potestade.

A frase "venha a enredar" (v.8) vem da palavra grega sylagogeo, que se referia a levar os cativos ou outros despojos da guerra. Nesse sentido, ela transmitia a ideia de um rapto. Ela retrata o modo como a heresia "Cristo + filosofia" estava sequestrando os colossenses para longe da verdade, levando-os à escravidão do erro. Assim o apóstolo retratou a filosofia como uma predadora que procura escravizar cristãos sem discernimento, por meio de "vãs sutilezas" (v.8).

"Vãs" fala de algo vazio, destituído da verdade, fútil, infrutífero e sem efeito. A filosofia declara ser verdadeira mas é totalmente enganosa, como um pescador que captura sua presa involuntária, ao esconder um anzol mortal dentro de um saboroso bocado de alimento. O peixe pensa que está sendo alimentado quando, em vez disso, torna-se alimento. Igualmente, aqueles que abraçam uma filosofia humana sobre Deus e o homem podem pensar que estão recebendo a verdade, mas, em vez disso, estão recebendo vão engano, que pode levar à condenação eterna.

A filosofia é inútil porque se fundamenta na "tradição dos homens" e nos "rudimentos do mundo" (v.8), e não em Cristo. A "tradição dos homens" se refere às especulações humanas passadas de geração a geração. A maioria dos filósofos amontoam seus ensinamentos sobre a pilha de ensinamentos dos seus predecessores. Um desenvolve um pensamento até tal ponto, depois outro o desenvolve além, e assim vai. Isso é uma série de variações dentro da tradição humana que apenas perpetua o erro e agrava a ignorância.

A frase "rudimentos do mundo" literalmente significa "coisas em coluna" ou "coisas em fila" (tais como 1,2,3, ou A,B,C). Ela se refere ao tipo de instrução que se daria a uma criança. Paulo estava dizendo que, embora intente ser sofisticada, a filosofia humana é de fato rudimentar— infantil e sem refinamento. Abandonar a revelação bíblica em favor da filosofia é como voltar ao jardim da infância após formar-se numa universidade. Mesmo a mais refinada filosofia humana nada pode oferecer para ampliar a verdade de Cristo. Ela impede e retarda a verdadeira sabedoria, produzindo apenas tolice, erro e engano infantis.

Em 1 Coríntios 1.18-21, Paulo diz:

Certamente a palavra da cruz é loucura para os que se perdem, mas para nós, que somos salvos, poder de Deus. Pois está escrito:
Destruirei a sabedoria dos sábios e aniquilarei a inteligência dos entendidos.
Onde está o sábio? onde o escriba? onde o inquiridor deste século?

Porventura não tornou Deus louca a sabedoria do mundo? Visto como, na sabedoria de Deus, o mundo não o conheceu por sua própria sabedoria, aprouve a Deus salvar aos que crêem, pela loucura da pregação.

A sabedoria humana não pode enriquecer a revelação dada por Deus. De fato, ela inevitavelmente resiste e contradiz a verdade divina. Mesmo o melhor da sabedoria humana é mera tolice em comparação com a infinita sabedoria de Deus.

Os cristãos, de forma nenhuma, precisam se dirigir à sabedoria humana. Eles possuem a mente de Cristo (1 Coríntios 2.16). A grande, perfeita e incompreensível sabedoria de Cristo se revela a nós na Palavra de Deus pelo Espírito Santo. Isso deveria revolver nossos corações e nos fazer declarar juntamente com o salmista:

Quanto amo a tua lei!
É a minha meditação todo o dia.
Os teus mandamentos me fazem mais sábio que os meus inimigos; porque aqueles eu os tenho sempre comigo.
Compreendo mais do que todos os meus mestres, porque medito nos teus testemunhos.
Sou mais entendido que os idosos, porque guardo os teus preceitos.
De todo mau caminho desvio os meus pés, para observar a tua palavra. Não me aparto dos teus juízos, pois tu me ensinas.
Quão doces são as tuas palavras ao meu paladar! mais que o mel à minha boca.
Por meio dos teus preceitos consigo entendimento; por isso detesto todo caminho de falsidade.

(Salmo 119.97-104)

Por que se deixar capturar pela filosofia quando se pode ascender à perfeita verdade de Deus?

Em Colossenses 2.9-10, Paulo traça um significativo paralelo: "Porquanto nele habita corporalmente toda a plenitude da Divindade. Também nele estais aperfeiçoados". "Plenitude" e "aperfeiçoados", nessa passagem, são originadas da mesma palavra grega (plêroma). Assim como Cristo é absolutamente divino, também nós somos totalmente suficientes n'Ele. A sabedoria humana nada acrescenta ao que já está revelado em Cristo.

Nossa suficiência em Cristo se fundamenta na completa salvação e no completo perdão, os quais Paulo descreve nos versículos 11 a 14. Ele diz que temos passado da morte espiritual para a vida espiritual através do perdão das nossas transgressões (v. 13). No versículo 14, ele traça um quadro vivido desse perdão, dizendo que Cristo "tendo cancelado o escrito de dívida, que era contra nós e que constava de ordenanças, o qual nos era prejudicial, removeu-o inteiramente, encravando-o na cruz". Quando alguém era crucificado, a lista de seus crimes era sempre pregada à cruz exatamente acima de sua cabeça. Sua morte era o pagamento por aqueles crimes. Os crimes que pregaram Jesus à cruz não foram os d'Ele, mas os nossos. Por haver Ele tomado sobre Si a nossa pena, Deus apagou o "escrito de dívida" que era contra nós.

Aos pensamentos de completa salvação e de completo perdão, Paulo acrescenta um terceiro: completa vitória (v. 15). Em sua morte e ressurreição, Cristo triunfou sobre as forças demoníacas, nos concedendo assim vitória contra o próprio maligno.
Em Cristo nós temos completa salvação, completo perdão e completa vitória — amplos recursos para cada questão da vida. Esta é a verdadeira suficiência! O que a filosofia pode acrescentar a isso?

(John MacArthur)


24 de fev. de 2017

.A Vontade do Eterno.

Vemos doutrinas sobre a vontade de Deus apregoando que Ele controla tudo o tempo todo, que o destino de tudo está submetido ao Seu alvitre constante e determinado. Uma grande mão manipulando cordões no imenso teatro de marionetes que é o mundo.
Essa é uma explicação para tudo. Daí, haja ginástica na exegese bíblica para justificar, por exemplo, que “Deus não influencia ninguém a nada, mas decretou que tal coisa acontecerá...”

Parece mais um apressado contra-argumento à hipótese de que Deus nos abençoa com discernimento, mas o mundo é responsável por suas próprias decisões. (Deus dá discernimento aos que a Ele pedem e se submetem, mas a maioria tem outras motivações e objetos de fidelidades).

Será que o castelo da fé desaba se pensarmos que a história humana é conduzida por nós mesmos, mas Ele pode abençoar pessoas e situações específicas ? Que Ele até pode nos deixar sujeito às nossas próprias vontades, mas não deixará nunca a destruição e a morte vencerem no final?

Será que o castelo desaba se entendermos que somos seres livres e o maior exercício dessa liberdade é nos submetermos ao Eterno para construirmos “a quatro mãos” nossa vida e transformar o mundo?

Será que a vontade de Deus não é um assunto particular e íntimo entre o Pai e seus filhos? E que a conversa deles pode dar-se por sinais, pensamentos, sonhos, alguém que telefona, uma frase solta que vem à memória, um texto bíblico, uma mensagem ? A vontade de Deus cabe em planilhas bíblicas generalistas e... “técnicas” ?

Será que a vontade de Deus é algo que se pode “racionalizar” em termos forjados por nossa limitada visão religiosa? Aliás, conceber que Deus é melhor entendido pela via dos “termos técnicos” é algo razoável? Não é dos humildes e simples de coração a melhor compreensão do Divino?

Celebremos o Mistério, porque Deus se revela ao coração de cada um conforme Ele quer.

.Há metafísica bastante em não pensar em nada.




     O que penso eu do mundo?   

     Sei lá o que penso do mundo!   
     Se eu adoecesse pensaria nisso.

     Que ideia tenho eu das cousas? 
     Que opinião tenho sobre as causas e os efeitos? 
     Que tenho eu meditado sobre Deus e a alma 
     E sobre a criação do Mundo?

     Não sei.  Para mim pensar nisso é fechar os olhos  
     E não pensar. É correr as cortinas 
     Da minha janela (mas ela não tem cortinas).

     O mistério das cousas?  Sei lá o que é mistério! 
     O único mistério é haver quem pense no mistério. 
     Quem está ao sol e fecha os olhos, 
     Começa a não saber o que é o sol 

     E a pensar muitas cousas cheias de calor.   
     Mas abre os olhos e vê o sol, 
     E já não pode pensar em nada,

     Porque a luz do sol vale mais que os pensamentos 
     De todos os filósofos e de todos os poetas. 
     A luz do sol não sabe o que faz 
     E por isso não erra e é comum e boa.

     Metafísica?  Que metafísica têm aquelas árvores? 
     A de serem verdes e copadas e de terem ramos 
     E a de dar fruto na sua hora, o que não nos faz pensar,  
     A nós, que não sabemos dar por elas. 
     Mas que melhor metafísica que a delas, 
     Que é a de não saber para que vivem 
     Nem saber que o não sabem?

     "Constituição íntima das cousas"... 
     "Sentido íntimo do Universo"... 
     Tudo isto é falso, tudo isto não quer dizer nada.  
     É incrível que se possa pensar em cousas dessas. 
     É como pensar em razões e fins 
     Quando o começo da manhã está raiando, e pelos lados das árvores  
     Um vago ouro lustroso vai perdendo a escuridão.

     Pensar no sentido íntimo das cousas  
     É acrescentado, como pensar na saúde  
     Ou levar um copo à água das fontes.

     O único sentido íntimo das cousas 
     É elas não terem sentido íntimo nenhum.   
     Não acredito em Deus porque nunca o vi.   
     Se ele quisesse que eu acreditasse nele, 
     Sem dúvida que viria falar comigo 
     E entraria pela minha porta dentro 
     Dizendo-me, Aqui estou!

     (Isto é talvez ridículo aos ouvidos 
     De quem, por não saber o que é olhar para as cousas, 
     Não compreende quem fala delas 
     Com o modo de falar que reparar para elas ensina.)

     Mas se Deus é as flores e as árvores  
     E os montes e sol e o luar, 
     Então acredito nele, 
     Então acredito nele a toda a hora, 
     E a minha vida é toda uma oração e uma missa, 
     E uma comunhão com os olhos e pelos ouvidos.

     Mas se Deus é as árvores e as flores  
     E os montes e o luar e o sol, 
     Para que lhe chamo eu Deus? 
     Chamo-lhe flores e árvores e montes e sol e luar;  
     Porque, se ele se fez, para eu o ver, 
     Sol e luar e flores e árvores e montes, 
     Se ele me aparece como sendo árvores e montes 
     E luar e sol e flores, 
     É que ele quer que eu o conheça 
     Como árvores e montes e flores e luar e sol.  

     E por isso eu obedeço-lhe,  
     (Que mais sei eu de Deus que Deus de si próprio?).   
     Obedeço-lhe a viver, espontaneamente, 
     Como quem abre os olhos e vê, 
     E chamo-lhe luar e sol e flores e árvores e montes, 
     E amo-o sem pensar nele, 
     E penso-o vendo e ouvindo, 
     E ando com ele a toda a hora.

[Alberto Caeiro]



in "O Guardador de Rebanhos - Poema V" 

Heterónimo de Fernando Pessoa


.Problemas na Igreja-clube.

Basta um tempo de vacas magras para que o velho e bom Malaquias dê as caras nas igrejas mais tradicionais. Não que ele não fosse reverenciado nestas, mas, de comum, sempre foi aquela referência meio vaga, meio envergonhada... Ao contrário das neopentecostais em que o velho "Mala" só falta mesmo ter uma estátua na porta.

Mas a crise veio e os dízimos e ofertas diminuíram. Como manter a super-estrutura de pessoal e edificações e atividades, estabelecidas "não por luxo ou exagero, mas para a Glória de Deus"?
Expressões como " sustento da Casa de Deus", "roubando de Deus", "gafanhoto" e a sempre bem-vinda separação entre dízimos e ofertas voltaram. Dá-lhe Malaquias.

A Igreja-clube é gigantesca e precisa de meios. Ela tem estrutura empresarial hierarquizada. Ela tem dezenas de pastores, fora os ministros profissionais, estagiários e pessoal administrativo e de manutenção. Então, premido pela necessidade, não custa lembrar daquela interpretação de que o dízimo é sim mandamento neotestamentário. O preço de não dizer isso seria muito caro. Talvez a instituição se obrigasse a diminuir, e a grandeza é um dogma.

Pelo menos por enquanto, estão convidadas a participar das pregações as referências leves aos que "roubam" de Deus e a interpretação de que o prédio da igreja local é a legítima "Casa de Deus", que não pode restar "caindo aos pedaços".
Esqueça-se, de momento, que o Senhor não habita em templos e que a Igreja são as pessoas.

23 de fev. de 2017

.Irmãs Rebeldes.

Muito se fala mal de igrejas-franquia que comercializam bençãos e prometem riqueza a quem "ofertar seu melhor" ($$) , seguindo as orientações de um líder "ungido pelo Senhor".
Mas esse tipo de entidade não surgiu do nada, não brotou do chão, não saiu de um vácuo. Eles, os sacerdotes da prosperidade, não arquitetaram seus métodos e dinâmicas. Pelo contrário, pouco inventaram para chegar ao nível de degeneração teológica em que estão. Eles apenas exageram.

As mega-igrejas de vendilhões são apenas e tão somente uma amplificação oportunista de fórmulas e dogmas criados e nutridos à base de interpretações bíblicas imutáveis da "igreja histórica", seja ela católica ou protestante.

Não foram eles, por exemplo, que avocaram para si a legitimidade para impor e arrecadar um estranho dízimo neotestamentário; não foram eles que criaram uma hierarquia institucional/eclesiástica que pressupõe uma gradação de "autoridade espiritual". Não foram eles que conceberam a administração das igrejas como se fosse uma empresa departamentalizada, movida à conversões, nem foram eles que inovaram encenando rituais "mágico-cristãos".

Não. Eles, os macedos, soares, valdomiros e outros tantos mais, apenas deram uma abusada nos modelos já consagrados e aceitos passivamente há centenas de anos.

Então, igrejas tradicionais, olhem para as corporações da fé que mercadejam bênçãos dos céus por meio de "profetas ungidos" e rituais como quem olha para suas rebeldes irmãs mais novas.
Elas tem a sua imagem e sua semelhança. Elas procedem alicerçadas em princípios que aprenderam com vocês, e se há algo de errado com elas, deve haver também com o resto da família.

7 de set. de 2015

.O que se sentiu foi o que se viveu.

"A vida é uma viagem experimental, feita involuntariamente. É uma viagem do espírito através da matéria, e como é o espírito que viaja, é nela que se vive. Há por isso almas contemplativas que têm vivido mais intensa, mais extensa, mais tumultuariamente do que outras que têm vivido externas. O resultado é tudo. O que se sentiu foi o que se viveu. Recolhe-se tão cansado de um sonho como de um trabalho visível. Nunca se viveu tanto como quando se pensou muito."


[Fernando Pessoa, "O Livro do Desassossego", Novis, p.234/5]


.O Eterno dispensa homenagens.



De que valem todos os maravilhosos hinos entoados em louvor ao SENHOR e todos os deslumbrantes templos dedicados a Cristo, se o menino sírio de três anos morreu no mar fugindo da guerra e da miséria?

De que valem as horas de vigília em oração?
De que vale a presença nos templos todas as quartas e domingos?
Para que o evangelismo e o estudo bíblico?

De que vale tudo isso se o mal ainda caminha entre nós ?

Tudo isso só faz sentido SE e SOMENTE SE servirem para mudar o coração das pessoas.

O Eterno não precisa que lhe prestemos glórias e homenagens. Não quer saber de nossos cantos ensaiados, de templos lotados ou  de nossas horas de joelhos.

O Eterno quer que os cânticos nos toquem a alma para o Seu amor e assim procuremos o Cristo.
O Eterno quer que os templos sejam lugares em que Seu amor seja constantemente lembrado, e os que lá estão se transformem pouco a pouco em amorosos como Cristo.

O Eterno espera que levemos o Seu amor a todos pelo evangelismo, a "boa nova", para que cada vez mais haja pessoas que queiram ser como Cristo.

O SENHOR quer que nossas súplicas e orações NOS transformem para que o NOSSO entendimento se abra ao Seu amor e, assim, sejamos imitadores de Cristo.
O SENHOR quer que busquemos a sabedoria do Seu conhecimento, para que, cada vez mais busquemos o caminho de Cristo.

Se o fim de tudo o que chamamos "espiritual" não for transformar pessoas (primeiramente nós mesmos) em pequenos Cristos, nada vale a pena. É puro entretenimento emocional ou perda de tempo mesmo.

Tudo deve ser feito para nos transformar  e transformar cada vez mais pessoas pelo amor de Jesus Cristo, e com isso sinalizar o Reino  futuro já neste mundo, para que Aylans de todos os povos e tempos não sofram vitimados pelo mal  fundamental.

26 de mai. de 2015

.A Subversão da vitória.

Ou: O Nocivo Valor da Vitória Artificial

Esforço, dedicação, talento. Noventa por cento de transpiração complementados com dez por cento de inspiração. Quem acredita sempre alcança. A vitória é para os persistentes...

Cultuamos a vitória como uma glória concedida aos melhores, aos abençoados, aos perseverantes. Os vitoriosos são tidos como merecedores de honras e alçados ao status de ídolos, reverenciados e invejados.

Vemos neles um sinal de que há sim uma saída para a mediocridade e padrões a serem valorizados e conquistados. Como meninos num saguão de aeroporto esperando seu ídolo passar, vemos os vitoriosos como semi deuses. Eles representam uma perfeição possível.

Nosso egoísmo intrínseco abre uma exceção para cultuar o vitorioso, porque vemos neles o ápice da nossa própria vaidade refletida numa referência.

Mas, quando se trata de vaidade, os princípios são relativizados. Somos especialistas em trapacear, engenhar ardis e torcer a verdade em favor do benefício próprio. Assim, se o triunfo traz vantagens, mimetizamos a vitória subvertendo a conquista.

Um exemplo: existe uma corrida tradicional em Curitiba disputada por militares do Exército Brasileiro chamada “Corrida do Facho”, em que participam atletas de todos os quartéis do Paraná. A vitória é muito valorizada e significa honra e notoriedade para comandantes e comandados. No inconsciente da tropa existe a abstração de que a unidade militar que apresentar os melhores atletas é também superior em tudo o mais. Muito provavelmente, quem idealizou essa competição tinha em mente propósitos elevados como o fortalecimento do espírito de corpo, incentivo ao preparo físico da tropa e incremento da disciplina.

Mas um belo dia, algum comandante achou que seria tão bom, mas tão bom vencer a Corrida do Facho, que talvez valesse a pena lançar mão de artifícios heterodoxos para vencê-la. Nada ilegal ou proibido, apenas a “sacada genial” de fazer a seleção dos corredores já na escolha dos recrutas e separar os melhores para – praticamente - só treinar corrida. Assim se fez: separava-se um grupo de atletas dentre os alistados para o serviço militar, a esses era ministrado um básico treinamento de caserna e uma intensa preparação para a Corrida do Facho. A esses selecionados foram oferecidos alimentação especial, horários diferenciados, técnicos específicos e dispensa de serviços comuns, dentre outras regalias... E treino pesado. Fora a farda e o cabelo, nem pareceriam recrutas. Formaram uma “tropa de elite”, mas de corrida. Deu resultado. Foi uma covardia emparelhar verdadeiros atletas profissionais com soldados "comuns", selecionados e treinados de maneira bem mais ortodoxa.

Sim, as vitórias vieram trazendo o orgulho, a honra e a exaltação com o sucesso. Em pouco tempo, quase todos os demais quartéis adotaram o “método” bem-sucedido.

Mas perdeu-se o espírito da competição. A partir daí passou-se a disputar quem formava melhores corredores e não soldados-corredores. Na verdade, acabaram com o que a vitória na Corrida do Facho representava. Atualmente pode não ser mais assim, não sei.

O esporte e sua disputa implacável é uma genuína metáfora das competições da vida. Exemplo maior da degradação da vitória no campo esportivo são as Olimpíadas modernas.

Os jogos foram concebidos com aquela ingenuidade do “congraçamento dos povos” pelo esporte, da saudável competição, dos valores da honra. Como guerras civilizadas, onde as nações se enfrentariam nos campos esportivos de batalha, sem mortes nem sofrimento, apenas o “espírito olímpico”. A História nos mostra que nunca foi bem assim. Uma medalha de ouro tem o poder de gerar dividendos políticos ao país que a ganhou. Muitas medalhas podem significar a humilhação dos inimigos. Conhecemos então o dopping, os hormônios injetáveis, as máquinas de criar atletas e outras bizarrices da busca frenética por medalhas.

Assim, em todos os campos onde há “vitoriosos” e “derrotados”, há artifícios para alçar os que não são os melhores ao triunfo postiço, pois vencedor é quem é assim considerado, e não necessariamente quem é o melhor. A vitória passou das mãos dos melhores, para as mãos dos mais ardilosos.

A vitória nominal dança ao sabor dos interesses envolvidos. Como consequência, há uma grande probabilidade de atletas hipertrofiados e hiper-estimulados quimicamente estarem no lugar mais alto do pódio.
Na hierarquia social há medianos bem relacionados ostentando títulos dessa carcomida nobreza que valoriza artífices de bons discursos ao invés realizadores discretos. Enfim: há muitos simuladores ocupando o lugar de capazes.

A vitória não é um valor em si mesmo. Ela deveria representar o coroamento de um modo eficaz de fazer as coisas, seja pelo talento, esforço, dedicação, abnegação, superação e sacrifício. Sem isso, não é vitória. É somente uma encenação num teatro de falsidades.

Como sociedade, pagamos pelo engodo e nos tornamos o retrato de nossas escolhas viciadas. A vitória nas eleições não significa que o melhor candidato cativou a maioria dos eleitores, mas sim que a máquina de marketing eleitoral e a selvagem engenharia de produção de votos funcionou bem.

Quantas pessoas têm caráter, formação e integridade para exercer um cargo político relevante, mas a ele nunca chegarão, pois não se encaixam no poderoso sistema que alça "ungidos" ao poder?

Mas contra a verdade não há ardis. Na hora em que a tempestade de fogo da realidade cai, os simuladores são os primeiros a queimar, pois são feitos de palha.

No império da verdade, não há lugar para simuladores.

Por isso comprar um troféu é tão diferente de conquistá-lo.
Por isso um troféu é dispensável para um vencedor verdadeiro.

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A sinceridade e a honestidade são as chaves do sucesso. Se puderes falsificá-las, estás garantido. (Groucho Marx)